Foi lendo os contos de Machado de Assis que tive o desejo de escrever algo sobre o gênero. Sempre o achei um contista melhor que romancista, e textos como "Pai contra mãe" ou "A Missa do Galo" são espetaculares. Não creio ser capaz de chegar em seu nível. Mas por ele, mudei minha rotina de sempre escrever romances - e versos em outras ocasiões - para me aventurar no mundo dos contos. Timidamente iniciei a tentativa de construir alguns. "A Modelo Perfeita" foi o primeiro conto que iniciei. Mas a pandemia chegou e o confinamento me fez aflorar o desejo de escrever diversos contos. Os primeiros três meses do lockdown foram absurdamente produtivos e toda a estrutura dos contos foi montada.
Difícil dizer como vieram as ideias, elas simplesmente surgiram.
Aos poucos, refleti sobre um elemento da mitologia grega, as "Tágides", ninfas do Rio Tejo, que flui pela península ibérica. Aparecem no épico de Camões, "Os Lusíadas", e embora há quem argumente que o termo foi cunhado anteriormente, por outros poetas, Camões imortalizou as ninfas do rio importante para os portugueses. As Tágides fazem uma contribuição tardia a mitologia grega e simultaneamente nacionalizam um elemento da mesma mitologia. São ninfas portuguesas, onde no poema épico, Vasco da Gama pede proteção para elas antes da missão, que faz todo o sentido dentro da proposta da obra, inspirado nos épicos de Homero. Nessa reflexão, pensei como seriam ninfas de rios brasileiros e com toda a humildade, tive a pretensão de nacionalizar a mitologia grega. O Rio Pardo passa por muitas cidades do interior de São Paulo e sul de Minas. O afluente do Rio Grande, não ocupa em nenhum momento de seu curso o perímetro urbano de minha cidade, Ribeirão Preto, mas é um dos rios de referência para os moradores. Por esse motivo, criei as Párides, as ninfas do Rio Pardo. E as Paulistiades, ninfas do famoso lago do Campus da USP em Ribeirão Preto. Criei por simples desejo de criação algumas outras ninfas. Do Rio Paraná, Rio Tietê, Rio São Francisco, Rio Tocantins e Rio Amazonas. E após essa "brincadeira", queria inclui-las em alguma história. Imortalizar minha criação.
Foi nesse momento que juntei algumas ideias que se desenvolviam anteriormente na mente. Entre elas, unir o maior número de criaturas do folclore brasileiro em uma única narração. Dessa maneira, surgiria o maior conto da obra, e o que daria título a ela: Os Brasucas. A estrutura camoniana, onde a primeira estrofe rima com a terceira e quinta, a segunda com a quarta e a sexta, e a sétima com a oitava, sempre em versos com oito estrofes, foi rigorosamente respeitada. No entanto, não me atrevi fazer todos os versos de forma decassílaba, por julgar que me falta a métrica para tamanha perfeição. Dessa maneira, desenvolvi um conto - o qual chamo de "conto em versos" por julgar prepotente dizer que construí um épico - em uma estrutura semi-camoniana. Outros grandes poetas e escritores já usaram dessa estrutura, como Jorge de Lima em "A invenção de Orfeu".
Ele e outros incluíram os versos decassílabos. E dessa forma, criei um canto falando da cultura do Brasil, sem a pretensão de imitar ou realizar a versão brasileira de "Os Lusíadas" (a história do Povo Luso), tão pouco criar uma obra definitiva que defina a amplitude cultural brasileira. Se na obra que me inspirou Camões descreve os feitos de Vasco da Gama no período de navegação, misturando fatos reais com ficção, e dedicando a um mítico rei português, Dom Sebastião, faço uma jornada por todo o território brasileiro, onde os heróis denominados "Picuricos", com ajuda de inúmeras pessoas e criaturas, explorando o país, enfrentando algumas criaturas do folclore, que se compartam coo vilões, e com a ajuda de outras, que se mostram benevolentes. O texto é dedicado ao povo brasileiro. Além de momentos não lineares, mencionando e homenageando figuras históricas do país, obras literárias, músicas e outras formas de arte. Escritores, poetas, músicos, cientistas, atletas e outras figuras histórias e/ou relevantes dentro da cultura do país.
"As ninfas brasileiras" que criei, ficaram em segundo plano. Porém, complementam toda a ambientação. Dos relatos históricos, da cultura, desde a dança, geografia e gastronomia de todas as regiões. Onde criaturas como Saci Pererê, Cuca, Caipora, Curupira, Caipora, Sereia Iara, Capelobo, Perna Cabeluda, Boitatá e inúmeros outros com fatos reais, problemas sociais, questões modernas e históricas.
Creio ser minha perspectiva, ótica do mundo, expandida na junção de tantos elementos. Criando uma identidade própria e adaptando mitos e lendas dentro de um universo próprio. Por isso alguns podem estranhar pequenos detalhes nas características de algumas criaturas conhecidas.
Além de Os Brasucas, há um texto chamado "Os Brasucas - O Prólogo", que senti necessidade de fazer, para facilitar a compreensão. O último conto de chama "A cidade acolhedora", que conta de forma mítica a criação de minha cidade natal, Ribeirão Preto. O Conto "Monique a Deriva", narra o drama de uma menina com transtornos psicológicos em meio a paralização da polícia militar que ocorreu no Espírito Santo em 2017. Há vários outros contos, que para economizá-los, não entrarei em detalhes nesse espaço. Alguns que se passam em locais fictícios e outros sem localidade definida. Acho que todos contribuíram para essa obra, OS Brasucas e Outras Aventuras.
Agradeço esse espaço pela oportunidade de escrever meus textos, de expor minhas ideias e usá-lo também para divulgar minha nova obra.
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